Aquela sensação de acordar para um novo dia sabendo que tudo continuaria igual deixava-me tranquila e mais animada. Os medos eram os mesmos e as paranóias...essas continuavam indissociaveis da minha vida. Pela janela percebi que era um dia de sol, daqueles que dá vontade de sair de casa mesmo de pijama só para sentir o calor daquela manhã de inverno. E não é que as saudades de ser criança me invadiram imediatamente? Eram tempos tão especiais e marcantes quando saltava da cama e com o cobertor a rastos corria para a sala para ver os desenhos animados. Ali ficava à espera que algo melhor aparecesse na minha vida por milagre. Enquanto isso não acontecia, a disposição era a mesma e o aborrecimento era tão pequeno que era capaz de desaparecer à medida que a televisão tomava conta de mim.
Naquela manhã permaneci assim durante alguns minutos esperançosa de viajar no tempo só para ver entrar pelo quarto a criança que um dia fui e da qual me orgulhava bastante. Era tarde, eu sabia que sim, mas estava ali tão bem que decidi permanecer naquele aconchego. Preferia ser capaz de sair dali com vontade para fazer mil e uma coisas mas sentia-me só feliz pelo facto de estar tudo igual. O sol continuava a incendiar os meus pensamentos mesmo permanecendo bem quieta na companhia da minha cama. A vida dava-me razões para sorrir mesmo correndo o risco de ser atropelada pelos dilemas que preenchiam a minha mente, mas, por instantes, não quis estragar a felicidade que sentia nem a boa sensação de estar viva. Porque sim, mesmo sendo algo estapafúrdio há dias em que essa realidade enche-nos de alegria só porque sim, só porque há vida em nós e acreditem que vida não significa estar vivo.
Nessa manhã percebi que uma parte de mim não podia se quebrar (não agora) e que a minha alma devia continuar a acreditar na mudança; que os meus sonhos deviam permanecer e que o tempo não devia expirar. Era um tempo tão especial e único...esse em que alguém não tem medo de esperar nem fazer as coisas acontecer. Ao longe, uma música surge como se espelhasse o sentimento de alguém que tinha acabado de acordar para um novo dia.

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