Ela tinha tantas palavras, tantas histórias. No meio de toda a sua vida ainda era capaz de parar e fazer aquilo que mais gostava. Não lhe era pedido muito nem ninguém andava atrás dela a pedir satisfações do que quer que fosse. E ainda bem que ainda era livre dessa forma! Observava tudo com a mesma exatidão com que se sentia observada. Não era vaidade nem egocentrismo, tratava-se só de viver em sociedade e perceber tudo o que esse ato acarretava. Senti-se feliz ainda que, de dia para dia, achasse que a felicidade lhe estava a escorregar pelas mãos como algo fatalmente destinado. Gostava quando ocasionalmente descobria lugares novos. Eram os seus melhores refúgios e confidentes. Olhava para o amor e sentia-se paciente. O amor ainda lhe era estranho e meramente inalcançável. Sabia que existia e que fazia bem às pessoas mas também tinha medo de toda a sua dimensão e de tudo o que ele era capaz de fazer com uma alma tão pequenina e frágil. Sentia que, de certa forma, ele era capaz de a magoar. O mundo era um recheio de incógnitas e todas as provações diárias, mesmo que arrebatoradoras, acabavam sempre por lhe proporcionar uma dose extra de força. Uma força renovada e doce. Uma força para quem precisava de um olhar diferente sobre a vida, para quem desejava, ardentemente, soltar-se do tempo e de todos os seus limites, para quem ainda acreditava em recomeços repletos de atitudes e sonhos. Perdia-se tanto no que ainda não tinha acontecido ou nem chegaria a acontecer que acabava por perder também o agora que construia o presente. Falava, falava e sentia-se a recusar as suas próprias palavras na esperança de servirem de exemplo a alguém. Exemplo ou não, acreditava que sim.
Ela tinha tudo e mesmo assim ainda queria mais mas não...não passaria por cima de ninguém para alcançar o que quer que fosse. Isso implicaria risco e era tudo o que ela menos queria. Talvez por isso fosse assim: tudo menos aventureira, tudo menos alguém que experimenta a felicidade todos os dias pela primeira vez. Talvez por isso esperasse por mais e nunca era suficiente.
Ela tinha tudo mas nunca chegou a aperceber-se disso...
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