Tudo o que mais queria estava agora diante dela sem que nada nem ninguém pudesse destruir aquilo que os seus olhos viam e sem que vida atropelasse o agora que lhe pertencia. Quis escrever sobre o sol agora adormecido, sobre as árvores que, lentamente, se deixavam embalar pelo vento, sobre o frio que lhe percorria o corpo e lhe lembrava que devia vestir o casaco, sobre a sua companhia ou até mesmo sobre a música de fundo que completava o tudo que os seus olhos desejavam gravar para sempre na memória. Tudo isso a fazia querer mais da vida, fazia-a libertar-se da rotina enfadonha e triste que lentamente a consumia. O agora que desejava deixar em palavras elucidava-a da beleza ténue do essencial. Nada mais importava se fosse capaz de fazer vale a pena aquele momento. Nada mais importava se conseguisse que as palavras lhe lessem os pensamentos. Nada fazia mais sentido do que o sentimento que nutria pelo que observava. Não bastava ver nem permanecer breves minutos sobre aquela paisagem, agora tão familiar. Não bastava escrever à sorte palavras que nem ela conseguiria mais tarde decifrar. Não bastava fazer daquele momento mais um de outros tantos que estariam por vir. Sabia que não podia confiar no futuro, era demasiado escuro e indecifrável. Sabia tantas coisas mas não era suficientemente capaz de as mostrar perante aquele sol, perante aquela vida que quer queira quer não era que a tinha escolhido. Não sabia o que fazer com todas as suas quedas repentinas e os seus devaneios insconscientes, isto porque eram grandes demais para ficaram para lá do presente.
Só queria permanecer do mundo e agarrar a vida de outra forma, da forma que ela merecia ser conquistada (sabia que era isso que lhe faltava).
Era um faltar de quem se recusava a admitir que a vida tem o seu trajecto e de quem não tem culpa de cativar o que merece.
Era um faltar insconsciente e temido por quem sentia demais.
Era um faltar de quem se sentia preenchida ao longo do dia mas acabava sempre por adormecer nos recantos da tristeza.
Era um faltar de quem já não tinha controlo sobre nada e de quem conhecia tão pouco do mundo. Talvez ela fosse o mundo quando se deixava conquistar pelo essencial. Talvez ela fosse o que faltava. Talvez o que faltasse estivesse nela e diante dela. Mas ainda assim e perante tantas falhas nada a deixava mais feliz do que o calor daquele abraço, a memória que agora tinha daquele cenário e a firme certeza que tinha encontrado o melhor lugar para o seus pensamentos.
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