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terça-feira, 26 de julho de 2016
No papel solto depositei todas as minhas palavras e até lágrimas. Nunca fui chorona, tu sabes! Custou, admito. Às vezes é impossível colocar em palavras aquilo que um dia sentimos ou experienciamos. Mas o papel estava em branco e bem livre. Há muito tempo que o tinha deixado em cima da mesa da sala para que, mais tarde ou mais cedo, a vontade (e a necessidade) chegassem. Muitos silêncios e vazios foram criados dentro de mim à medida que o tempo foi passando, à medida que a distância esclareceu o que há algum tempo nunca tivemos coragem para fazer. Era difícil para mim decifrar o que sentia quanto mais os silêncios que, frequentemente, se foram instalando em mim. Talvez me tenham tirado a fome (estranho!) ou a vontade de sorrir e sair de casa. Sei que me acomodei na minha tristeza. Sei que esses silêncios dificilmente silenciaram o meu coração, desprovido de nadas e seguranças. Por mais vontade que tivesse de construir muros havia sempre alguém a construir pontes por mim e para mim. Mas eu não queria chegar ao lado de lá. Aquele lado assustava-me, lembrava-me que nem sempre somos o que queremos ser para os outros, que nem todos os dias somos recebidos de braços abertos e que não vivemos para agradar ao mundo inteiro. Doeu. Doeu muito. Ainda hoje dói quando penso em todas as vezes em que simplesmente fingi. Fingi não me preocupar. Fingi que não estavas ali porque estavas bem e isso não me podia custar. Eu tinha de conseguir sair do que sentia para me concentrar no que era importante viver naquele momento.
Mais do que tudo, o que realmente magoou foi o silêncio. E sabes porquê? Porque ele tem esse dom de querer dizer muita coisa ao mesmo tempo que nos deixa sem certezas sobre o que realmente significa. Deixou-me frágil, às vezes intocável, pensativa. Não gostava das noites, dos silêncios...porque tu já eras um silêncio e isso bastava.
À noite tudo se agigantava: a minha tristeza, a tua ausência, o medo do dia de amanhã, a enorme vontade de sonhar e fazer esse tempo durar para sempre.
Era também difícil encontrar palavras que me ajudassem a abandonar essa tristeza. Por mais que as utilizasse eu sabia que elas nunca chegariam. Por isso o papel em branco, solto na mesa da sala... Dessa forma não corria o risco que alguém, lá em casa, lesse o que quer que fosse. Seria mais um entre outros tantos papéis que tem a sorte de servir apenas como lista de compras.
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