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segunda-feira, 1 de agosto de 2016
A água chega até aos meus pés e lembra-me do quão fria consegue ser a água do norte (fala a pessoa que não conhece nada depois de Lisboa!). As crianças aventuram-se destemidamente para sentir a frescura do mar. Perco-me nesse azul que se interçala no azul do céu bem perto do horizonte. "Não vás para longe" avisa a mãe de uma das crianças preocupada.
Na abundância de sons e barulhos os pensamentos concentram-se em tudo o que não consigo ver mas que gera em mim um grande nível de imaginação. Continuo perdida no horizonte. Perdida em tudo o que aquele lugar poderá esconder e curiosa sobre o que está para além do que consigo alcançar através do olhar. As crianças chapinham na água, correm de um lado para o outro, procuram algo que sirva para as suas construções de areia, brincam entre si depois de tanto tempo à espera da chegada do Verão, rebolam entre as poças de água até chegarem,finalmente, à linha do mar onde são recebidas pelas ondas fortes e hesitantes.
Gosto de relembrar os tempos da minha infância quando nada era um problema muito menos a temperatura da água. Corri tantas vezes de trás para a frente à procura da melhor concha, do búzio mais bonito... O melhor mesmo era poder estar aqui, viver o dia de praia ainda não tendo total consciência da tranquilidade que isso significava para mim mas vivê-lo da forma mais natural e ingénua bem ao jeito dos tempos de criança.
Já sentada sinto as ondas a voltarem a mim e nelas revejo o trajecto de uma vida. Há tanta coisa que vai e vem sem darmos de conta. Tanta coisa que fica pelo caminho, que não chega se quer a pisar a areia molhada. Ou outras que nunca chegam a partir verdadeiramente.
De repente, sinto a água a cair-me pelas costas enquanto alguém parece correr pela primeira vez, desenfreadamente, em direção ao mar. Talvez esteja desejosa de sentir a sua delicadeza ou a falta dela mas uma voz trava-a: "Joana, devagar. Anda para a toalha."
A minha mãe diria o mesmo nesse tom maternal e carregado de preocupação lembrando-me que na vida o que às vezes aparenta ser bom vem disfarçado de mal.
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